sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Aula de política social do Professor Bresser Pereira e seu tapa na cara nos neoliberais...

Cena do dia:
Local: Sala São Paulo - Encontro Interestadual de Gestão Cultural
Tema: Organizações Sociais de cultura.
Take 1: Momentos antes da ultima mesa do encontro, lá estava eu e um amigo da área teatral já sentados na platéia, aguardando a próxima mesa de debates. Estavamos falando sobre o encontro, e claro, criticando a visão neoliberal do modelo das OSs em SP. Depois de alguns minutos, chamam a mesa o palestrante o Ministro e professor Bresser Pereira, que pra minhasurpresa estava o tempo todo sentado sozinho bem na nossa frente e ouviu toda nossa conversa...rs.
Take 2: Bresser Pereira dá uma aula de política social, detona a visão neoliberal de aplicação do modelo de OS , visão distorcida implantada na gestões dos governos Alckmin em SP e Aecio em Minas ambas a partir de 2003 e mostra bem que o problema não é o modelo em si, mas a forma como ele foi aplicado nesses dois estados, isto é, a partir do modelo neoliberal privatista. Bresser Pereira ressalta que esta não foi a intenção quando a lei federal de OSs foi criada em 98. Lembra bem que o estado não produz cultura, que quem produz são produtores e artistas e que as OSs devem ser geridas como entidades de participação social que trabalham ao lado do estado produzindo cultura, complementando especificidades que não são competência de burocratas (como a cultura, a saúde e a educação) e não como entidades privatizadas como tem sido feito. Fala também do decreto 8243 como possíbilidade de complementação do Marco Civil das Organizações da Sociedade Civil, que poderia ajudar a ampliar a participação social também nas OS.
Espero que o recado do Professor tenha sido entendido. Tanto pela SEC, quanto pelos gestores que estavam presentes. No primeiro dia de encontro, ficou bem claro, que muitos acham maravilhoso o modelo da forma que tem sido aplicado. Ontem mesmo fomos obrigados a ouvir falas ultra neoliberais, onde apenas resultados em números é que importam. Os neoliberais se esquecem que antes de tudo estamos falando de cultura e de entidades do terceiro setor!!
Claro que o maior problema ainda é a distribuição de verbas a cultura. Em nenhum momento foi falado pela secretaria de cultura do estado de SP, quanto é repassado a estas OSs, mas é sabido que a verba para as OSs é infinitamente maior do que a verba de cultura para produtores e artistas via editais e lei de incentivo. Esse repasse de verbas totalmente desigual é o que reforça o modelo neoliberal de aplicação do modelo em SP. Só a OSESP recebe sozinha quase o dobro de toda a verba dos editais do Proac. Não adianta tentar nos convencer que são entidades de Organização Civil enquanto o processo de qualificação dessas entidades for meritocratico, elitista e não representar de fato a sociedade civil que produz arte e cultura no estado.


quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Projeto cultural: as especificidades de um novo gênero do discurso

Segue o link para dowload da  publicação de minha dissertação de mestrado "Projeto cultural: as especificidades de um novo gênero do discurso" defendida em maio de 2014 na FFLCH. 

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8142/tde-30092014-183842/pt-br.php#referencias



banca examinadora
Grillo, Sheila Vieira de Camargo (Presidente) (USP)
Caretta, Elis de Almeida Cardoso (USP)
Goldstein, Ilana Seltzer (UNIFESP)

Resumo em português
As políticas públicas de cultura no Brasil bem como o surgimento de leis de incentivo fiscal geraram, nos últimos anos, 
novas possibilidades de viabilização da produção cultural, tornando-se assunto de grande relevância na construção 
social brasileira. Atualmente o principal enunciado utilizado para viabilizar ações culturais no Brasil é o projeto cultural, 
aliado às leis de incentivo à cultura, razão pela qual elaboramos a questão principal desta pesquisa: de que forma o 
gênero discursivo projeto cultural se constitui na esfera político-cultural brasileira? Para responder essa pergunta, 
defendemos a perspectiva de que os projetos culturais são constituídos e constituem a esfera político-cultural no Brasil. 
O corpus principal da pesquisa é formado por nove projetos culturais aprovados nas leis de incentivo nos últimos anos. 
Observaremos ainda as leis de incentivo à cultura e os editais de cultura em três âmbitos públicos: o federal, o 
estadual e o municipal. Por meio de uma análise metalinguística bakhtiniana, observaremos como estes enunciados 
operam na esfera político-cultural brasileira e como o gênero do discurso projeto cultural se relaciona a outros enunciados, 
inclusive aqueles de outras esferas ideológicas. O fundamento da pesquisa está nos conceitos teóricos do Círculo de 
Bakhtin - relações dialógicas, esfera, forma arquitetônica, autoria, signo ideológico, cultura e principalmente gênero 
do discurso auxiliados pela reflexão de Bourdieu, Geertz, Gramsci, Hobsbawm, Ortiz, Chauí e Coelho a respeito da 
relação entre Estado e cultura. A análise dos aspectos composicionais, temáticos e estilísticos comprovou a relativa 
estabilidade do gênero projeto cultural que reflete e refrata as influências dos discursos das esferas cultural, política, 
econômica, estatal, legislativa, corporativa, publicitária, midiática e artística, que, em seu conjunto, formam a esfera 
político-cultural brasileira na atualidade

terça-feira, 22 de abril de 2014

Curso: A Produção Cultural no Brasil: Panorama histórico, leis de incentivo à cultura e reflexões político-culturais / 2ª edição

Destinado a artistas, produtores culturais, pesquisadores, jornalistas e demais interessados, o curso trará um amplo panorama sobre a esfera das políticas culturais, abordando os processos históricos, as leis de incentivo à cultura e reflexões político-culturais.

Objetivo:
O curso irá traçar inicialmente um panorama da história das políticas culturais no Brasil e em São Paulo, desde a chegada da família real portuguesa em 1808 até o momento atual. Além do panorama histórico, o curso fará uma reflexão sobre a esfera político-cultural no Brasil atual e trará aos participantes uma visão abrangente da esfera, mostrando as leis de incentivo à cultura disponíveis para uso em âmbitos federal, estadual e municipal. Será feita uma abordagem do contexto sócio-histórico das principais ações governamentais com foco mais detalhado nos últimos 20 anos, a partir do advento das leis de incentivo à cultura.

Pré-requisitos:
• 16 anos
• Ensino fundamental completo
• Contato prévio com arte e a história contemporânea brasileira.

Programa:
• Primórdios das políticas públicas de cultura no Brasil: da chegada da família real, o Estado-novo e a ditadura política dos anos 60
• Redemocratização política dos anos 80 e a implantação das leis de incentivo à cultura no Brasil
• Ministério da Cultura
• A Lei Sarney e a conjuntura da redemocratização
• A Lei Rouanet nos governos FHC, Lula e período atual
• Perspectivas para a implantação da nova lei de incentivo á cultura federal - Procultura
• A história das leis de incentivo à cultura em São Paulo: panorama estadual e municipal
• Leis de incentivo à cultura: panorama atual de possibilidades de uso.
• O programa Cultura Viva e os Pontos de Cultura como alternativa sustentável.
• Reflexões sobre a esfera político-cultural atual e aplicação na gestão de políticas públicas de cultura
Método:
Aulas expositivas e leitura de artigos sobre o assunto.

Biografia da docente:

Inti Queiroz é produtora cultural, pesquisadora de cultura e mestranda em Filologia e Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo – USP com pesquisa na área de análise do discurso sociodialógico e filosofia da linguagem. Graduada em Letras nas habilitações de Linguística e Português pela Universidade de São Paulo. Graduação interrompida no curso de história também pela USP. Atualmente está finalizando um projeto de mestrado intitulado “Projeto cultural as especificidades de um novo gênero do discurso” onde analisa como se compõe um projeto cultural e como este é constituído a partir da complexa esfera político-cultural no Brasil. Possui DRT como Diretora de produção de espetáculos há 8 anos. Atua há 20 anos na produção de espetáculos musicais e há mais de 10 anos nas áreas de: pesquisa e consultoria de projetos culturais com leis de incentivo a cultura. Trabalha como produtora de diversas bandas e festivais desde 1995. Desde 2002 é gestora de projetos culturais de diversos tamanhos nas áreas de teatro, audiovisual, artes visuais patrimônio histórico e música. Desde 2007 produz dois festivais paulistas de música instrumental, o Festival PIB – Produto Instrumental Bruto e o Festival Expresso Jazz SP.

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Duração: 4 horas (1 encontro)

Data: quarta-feira, 14 de maio de 2013

Horário: das 19h00 às 23h00 (com intervalo)

Investimento: R$ 30,00

Inscrições, reserva de vaga e informações: educativo@epicentrocultural.com

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Meu novo curso do Proac

PROAC 2014 - Formatação de Projetos Culturais para a Lei do ICMS 
 Docente: Inti Queiroz

Inscrições aqui: http://www.acasabranca.com/Item.aspx?IdItem=47

O curso aborda o projeto cultural, principalmente no que tange a produção textual e orçamentária 

e a formatação dos projetos para o mecenato do ProAC ICMS - SP. Apresenta uma análise discursiva
de alguns projetos e das leis de incentivo, observando como estes enunciados operam na esfera
político cultural no estado de São Paulo e como a Lei 12.268/2006 (Lei do ICMS) e seus decretos
posteriores normatizam os projetos culturais em questão. É aplicada a metodologia de produção e
 formatação de projetos, ampliando o conhecimento dos alunos em relação aos textos e ferramentas
de formatação de projetos (inclusive de inscrição online).
A construção de textos anexos, orçamentos, planejamento de divulgação, cronograma e plano de
distribuição de produtos também são abordados no curso. O prazo para cadastramento de novos proponentes 
e novas propostas de projetos no PROAC é de 06 de janeiro a 31 de outubro de 2014.


Local:
A Casa Branca - rua ministro gastão mesquita 243 - perdizes - contato@acasabranca.com | + 55 11 4371-2158

Datas

17, 19 e 24/03 -19:30h as 22:50h 
Carga Horária
10 Horas
Investimento
R$ 250,00 até 10/03, após R$ 290,00
Objetivo:
Indicado a artistas, profissionais da área de produção cultural, o curso tem o objetivo de auxiliar
 os participantes na construção textual, formatação, planejamento, inscrições e gestão de projetos
 culturais com incentivo na Lei do ICMS - SP/ProAC.
Programa:
1. Políticas públicas no Brasil e o Estado de São Paulo: Reflexão acerca do contexto 
sócio-histórico da esfera e a história dos projetos culturais no Brasil.
2. Leis de incentivo à cultura: Leis do ICMS (analise discursiva e reflexão)
3. Sistema online de inscrição de projetos
4. Planejamento de projeto artístico e viabilização no mercado de marketing cultural.
5. Estrutura básica de projetos culturais do PROAC
6. Especificidades de construção de projetos culturais: orçamento e texto
7. Especificidades de discurso estratégico: aplicação do marketing / mídia em leis de incentivo à
cultura e editais do ICMS.
8. Formatação de projeto cultural passo a passo
9. Introdução à captação de recursos
10. Introdução à gestão de projetos culturais no Proac
11. Introdução à prestação de contas do Proac
12. Planejamento final de trabalho / projeto cultural 
Pré-Requisitos:
18 anos;
Ensino médio completo;
Contato prévio com artes e cultura;
Método: 
Aulas expositivas e textos reflexivos possibilitarão ao aluno a formatação de projetos culturais.
Apresentação de um projeto por aluno após a conclusão do curso para avaliação da docente.


PRÓXIMOS CURSOS:
- Editais Proac SP
- Gestão e Prestação de contas de projetos culturais.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Pensando um pouco mais o Vale Cultura...

Na gestão da Ministra Ana de Hollanda, mas principalmente na gestão atual com  Marta Suplicy, o Ministério passou a assumir no conceito de cultura, sua vocação de indústria criativa. A partir do ano de 2013 projetos de moda passaram a ser aprovados pela CNIC. Em seu discurso de posse, Marta Suplicy demonstrou aparentemente apoiar a visão ampliada de cultura transversal e diversa das gestões anteriores, porém sua primeira ação concreta no Ministério mostrou exatamente o contrário. Marta neste mesmo discurso de posse relatou como prioridade de sua gestão a aprovação do Vale-cultura.[1] “Peço à câmara o mesmo empenho para a aprovação do Vale-cultura que acredito fará uma revolução na vida do povo brasileiro, assim como incentivará a produção cultural.” (SUPLICY, 2012)[2] 
A ferramenta reverte verbas do Fundo Nacional de Cultura e verbas utilizadas por meio da isenção fiscal de 1% do valor devido ao imposto de renda de empresas públicas ou privadas. Essas empresas ao deduzir 1% do valor devido no imposto, repassam a verba a seus funcionários em vales de 50 reais/pessoa/mês, por meio de cartões magnéticos. Esta verba mensal é destinada à compra de produtos culturais em estabelecimentos credenciados pelo Ministério. Ainda que a medida inicialmente se mostre democratizante, achamos pertinente salientar o viés mercantilista e exclusivista da ação, que se contrapõe ao conceito ampliado de cultura proposto pelas gestões anteriores do Ministério (Gil e Juca) que buscavam entre outras ações democratizar o acesso à cultura. 
O ponto chave de nossa crítica nesta reflexão é que o uso do Vale-cultura será exclusivo dos funcionários de grandes empresas que utilizarem a ferramenta através da isenção fiscal e sejam optantes pelo lucro real. Isto é, apenas uma pequena parte da população trabalhadora poderá utilizar o benefício. 
De acordo com a pesquisadora Karina Poli (2013) numa avaliação feita no ano de 2011 apenas 2% das empresas brasileiras utilizavam os mecanismos da lei federal de cultura. Entre esses 2% observados na pesquisa de Poli, estão em maior volume as grandes empresas estatais brasileiras, empresas de telefonia e grandes conglomerados do setor financeiro e construção civil. Ao contrário do que argumenta a Ministra, acreditamos que o uso do Vale-cultura, em lei sancionada pela Presidente Dilma em dezembro de 2012 e regulamentada para uso em agosto de 2013, deverá restringir o acesso aos produtos culturais apenas para uma pequena parte da população, os funcionários destas grandes empresas. 
Outro ponto relevante a nossa observação é perceber que a verba do FNC destinada para esta ferramenta do Vale-cultura se torna parte da mesma porcentagem de 4% de isenção fiscal da Lei Rouanet para projetos de mecenato.  Se por um lado os projetos culturais patrocinados via mecenato recebem influência direta em sua produção pelos preceitos do mercado, e não merecem nosso apoio, como ferramenta liberal e retrógrada em termos de políticas culturais, por outro o Vale-cultura, a nova "vedete" desta gestão no ministério, restringe ainda mais o acesso, permitindo que apenas os funcionários destas mesmas empresas recebam o benefício. O conceito de cultura através desta ação institucional do Vale-cultura estaria mais uma vez limitando o acesso à cultura ao proporcionar o acesso exclusivo à trabalhadores formais de grandes empresas, isto é, uma minoria. Não estão contemplados no Vale-cultura, funcionários de empresas optantes pelo lucro presumido, isto é empresas de médio e pequeno porte, muito menos trabalhadores informais, desempregados e estudantes. Outro ponto crítico é a legitimação da produção cultural enquanto produtos de consumo comercial. O viés mercantilista da ação busca a legitimação por meio da filosofia das indústrias criativas como uma possibilidade de geração de renda para pequenos produtores culturais.  

Utilizando uma reflexão que fizemos neste blog em novembro de 2013 completamos o pensamento com 2 outros pontos pertinentes em nossa crítica...
2. A verba que viabilizará o Vale Cultura é a mesma verba que poderia incentivar projetos culturais por outras ferramentas ligadas ao PRONAC e aos programas de cultura, como editais, ou por exemplo o ótimo programa Cultura Viva, mais conhecidos por um de seus braços, os Pontos de Cultura. O vale cultura toma o lugar de Projetos culturais que poderiam ser gratuitos, oferecendo acesso a qualquer interessado... Estes projetos que poderiam ter incentivo direto do governo via FNC, ou mesmo por meio do mecenato via Rouanet. Porém através do Vale Cultura esses darão lugar a uma ferramenta de endomarketing das empresas. 

           3. O uso do vale cultura tem sido defendido por alguns alegando que esta pode ser uma ferramenta que incentive a produção e a geração de empregos no meio cultural no âmbito da economia criativa. Porém me parece que na prática não é bem assim... que esta ferramenta apenas beneficiará a produção no nível das indústrias culturais para aqueles produtores que já conseguiram se estabelecer em suas áreas artísticas. Sabemos que os maiores problemas nas práticas culturais no Brasil são: a) A formação de público para artistas independentes. Só quem não conhece o mercado cultural poderia apostar que o benefício do Vale será usado em produções independentes. Sabemos que mais uma vez grandes produções e grandes artistas serão os grandes beneficiados. b) Projetos artísticos independentes raramente conseguem sair do papel. Isto é, apenas grandes artístas e grandes projetos continuarão sendo desenvolvidos.


Esta breve análise nos permite aferir que a ferramenta visa apenas fomentar a indústria cultural e não incentivar a arte e a cultura de forma democrática, ao privilegiar seu uso apenas por aqueles que já detém o poder econômico. A ferramenta pode e deve ser repensada com alteração em diversos pontos conforme salientamos na reflexão acima. Porém mesmo com alterações, como por exemplo a ampliação de acesso á dedução fiscais por todos os tipos de empresas, ela continuará fomentando em primeiro lugar as indústria culturais, e não a economia criativa de base (leia-se produtores pequenos / independentes) pois o grande público brasileiro sempre será motivado a consumir produtos culturais gerados e divulgados pela grande mídia e produzidos pelas grandes corporações de arte. 

Sobre isso ver também nossa reflexão anterior: 
http://culturapraquemquer.blogspot.com.br/2013/11/vale-cultura-pra-quem.html




[1] Sobre o Vale-cultura. Disponível em: < http://www.cultura.gov.br/valecultura > acesso em 18/10/2013.
[2] Discurso de posse da Ministra Marta Suplicy. Disponível em: < http://www2.cultura.gov.br/site/2012/09/13/discurso-de-posse-da-ministra-da-cultura-marta-suplicy/ > acesso em 26 de setembro de 2013.