terça-feira, 28 de abril de 2015

Até logo, Abu!

O Brasil perde um provocador da arte e eu perdi um amigo e grande mestre... Emoticon frown
Depois de dois anos trabalhando lado a lado com ele há 10 anos atrás, criamos uma amizade querida, aprendi muito e passei a enxergar o mundo de um jeito diferente. Foi com ele que comecei a pensar como pensar a arte além do visível e conheci a fundo Ionesco, Shakespeare, Poesia contemporânea, literatura francesa, Brecht, Dostoievski, Peter Brook, e Artaud. Algumas horas naquela biblioteca do apartamento da Rua Maranhão era sempre uma aula de filosofia e arte.
Foi ele que me mostrou que devemos acreditar no poder da juventude e da arte. Ele adorava estar rodeado pelos jovens da arte e sua missão de vida era abrir portas para os novos talentos. Foi com ele que aprendi a produzir um festival de arte, a fazer curadoria, a fazer luz de palco, organizar um camarim, e tudo isso sem ser uma produção careta. Ele sempre foi vanguarda e sempre me mostrou o caminho. Ele gostava de subverter sempre, mesmo na produção. Ele odiava burocracia. Sempre reclamava disso e isso me inspirou a criticar como a burocracia mata a arte. Cada segundo com ele era sempre um aprendizado. Por causa dele até aprendi apostar em cavalos, ele era apaixonado pelas corridas de cavalo. Ele gostava de música moderna. Ele sempre comentava das camisetas de bandas que eu vestia e me surpreendia sempre comentando sobre as bandas. Ele era fã dos Sex Pistols e do Iggy Pop. Fizemos muitas viagens juntos por esse Brasil. Salvador, Porto Alegre, Rio, etc. Uma vez brigamos feio em Salvador durante uma produção. Depois da treta, ficamos de bem nos abraçamos e choramos juntos. E em todas as viagens ele me dava um presente. Boa parte dos casos me dava livros, sempre com dedicatórias carinhosas. Quando ele foi pra Russia, me trouxe um Icone lindíssimo de presente, e falou que era pra deixar proximos aos livros pra sempre lembrar da magia da cultura. Ele era um alquimista da arte.
A cada produção que eu faço sempre penso como ele faria isso, pois sei que ele sempre fazia pensando nos outros e como fazer os outros avançarem (apesar dele ter um ego enorme ele sempre pensava muito nos outros).
Já estava me preparando pra esse dia. Depois que ele perdeu suas queridas parceiras de vida, sua esposa Belinha e sua produtora Daria, sabia que esse dia chegaria logo. Ele sempre foi muito dependente das mulheres ao seu redor. Lembrarei com carinho de nossas caminhadas pelas ruas desse país de braços dados ouvindo histórias inspiradoras. Nas vezes que estivemos em Porto Alegre, ele me contava detalhes de seus anos de juventude universitária por lá. Cada esquina tinha uma história e personagens fascinantes. Poderia escrever um livro de tantas boas lembranças que ele deixa pra mim.
Ele deixou esse plano, mas pra mim estará sempre do meu lado, me provocando a fazer cada vez melhor, e continuar sempre acreditando no poder da juventude.
Fica em paz querido, Abu.
Te amaremos pra sempre.

 Emoticon heart